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Mandela

(Londres, brpress) - Ele entendeu que seus aliados perderam a Guerra Fria e, por isso, friamente, adaptou-se aos que ganharam esta guerra. Por Isaac Bigio.

(Londres, brpress) – A morte de Nelson Mandela, aos 95 anos de idade, e seu funeral continuam ocupando a midia global. A imprensa de todos os tons políticos o elogia – algo inusual para um governante.

    O premiê britânico David Cameron esteve em suas exéquias e foi muito comentado que ele, Obama e a primeira-ministra dinamarquesa tivessem tirado juntos uma foto festiva no meio da cerimônia.

    No entanto, o dado interessante é que o primeiro-ministro do Reino Unido pertence ao mesmo Partido Conservador, que, nos anos 80, governou com Thatcher classificando Mandela como terrorista.

Reconciliação

    A direita mundial, depois de haver vilipediado Mandela como “extremista”, terminou bendizendo-o: quem passou 27 anos preso condenado como terrorista foi se transformando na cadeia. O preso acabou reconciliando-se com seus encarceradores e chamando a uma reconciliação nacional.

    As mídias mundiais coincidem em mostrar Mandela como o homem que evitou uma guerra civil no país mais rico da África, logrando que se mantivesse todo o sistema prévio, mas permitindo que a maioria negra pudesse exercer a presidência e ocupar os ministérios.

Luta continua

    Com certeza, Mandela é o símbolo do fim da segregação dos negros, mas a miséria, o analfabetismo e a discriminação econômica contra as maiorias não-brancas persiste. Os que se beneficiaram com as torturas e o Apartheid seguem mantendo suas empresas e, inclusive, muitos de seus postos administrativos.

    Na África do Sul sobrevive o reino autocrático da Suazilândia, onde seu monarca tem direito de escolher as mulheres de seu harém e a mostrar grande opulência enquanto sua nação é uma das mais infectadas pela Aids em toda a história global.

    Com Mandela, a África do Sul deixou de ser a única potência imperial africana a se armar contra Moçambique e Angola para conseguir um entendimento com os governos de origem marxista destas ex-colônias portuguesas, os quais hoje fomentam investimentos privados e estrangeiros e transformaram seus inimigos armados em parte do sistema.

    Mandela fez com que a África do Sul eliminasse suas armas de destruição massiva, algo que a Líbia e o Iraque também fizeram, mas diferentemente destes países árabes, a África do Sul não foi bombardeada e sim abençoada pelos grandes do mundo.

Castro e Obama

    No enterro de Mandela deram-se as mãos Raúl Castro e Barack Obama. Esquerda e direita vêem nele o homem que pode reconciliar estes extremos e um modelo para a paz na Irlanda do Norte, no País Basco, Palestina, Colômbia, entre outros.

    Mandela foi o símbolo daqueles antigos guerrilheiros e anti-imperialistas que buscaram realinhar-se com os EUA, acreditando que, com o fim do bloco soviético, não valia mais a pena nacionalizar empresas nem defender uma economia planificada.

    Mandela entendeu que seus aliados perderam a Guerra Fria e, por isso, friamente, buscou adaptar-se aos que ganharam esta guerra. O antigo terrorista se converteu numa mercadoria e sua imagem tornou-se uma das mais populares do mundo empresarial.

    Mandela abriu o caminho para houvesse negros na Secretaria Geral da ONU e na Casa Branca. Também serviu de exemplo para que um ex-sindicalista classista da maior nação do hemisfério sul, o Brasil, se tornasse um administrador das empresas de seu país.

    Mandela morre sendo um símbolo do fim da bipolaridade e da nova ordem mundial na qual se busca amenizar as diferenças entre direita e esquerda, em troca de que a segunda renuncie à violência e ao socialismo e aceite o capitalismo liberal, e que a primeira abandone o golpismo e os extremos.

(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics. É um dos analistas políticos latino-americanos mais publicados do mundo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] , pelo Twitter @brpress e/ou no Facebook. Tradução: Angélica Campos/brpress.

Isaac Bigio

Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics . Tradução de Angélica Campos/brpress.

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